Do hekal ao debir: uma caminhada autorizada
A passagem bíblica que mais nos convoca a chegar perto de Deus diz sem rodeios: “Aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé” (Hb 10.22). É mais um encorajamento do que uma ordem.
Não devemos ter medo nem hesitação de entrar na presença de Deus. Esse acesso ao santuário de Deus deve ser feito diretamente, com ousadia, com total segurança.
Precisamos nos encher de coragem por causa do sistema anterior. Na antiga aliança era terminantemente proibida a entrada de qualquer pessoa no Santo dos Santos. Apenas o sumo sacerdote do ano poderia entrar lá uma vez por ano, no décimo dia do sétimo mês (correspondente à segunda metade de setembro e primeira metade de outubro).
Assim mesmo, só depois de sacrificar um novilho pela expiação de seus pecados e os de sua família, e de sacrificar o bode expiatório em favor do povo, entre outros rituais (Lv 16.1-34; 23.26-32).
Nos séculos anteriores à primeira vinda de Cristo, a situação era contrária a qualquer aproximação e até mesmo apavorante. Basta lembrar os limites estabelecidos por Deus em torno do monte Sinai para impedir os israelitas de subirem e sequer tocarem sua base, no dia em que ele lhes deu o Decálogo (Êx 19.12, 20-25). Para transportar a arca da aliança, não era permitido pôr as mãos nela. Daí as duas varas enfiadas dentro de quatro argolas (duas de cada lado) para remover a arca de um lugar para outro (Êx 25.10-16). Quando Uzá esticou o braço e segurou a arca para ela não cair, porque os bois haviam tropeçado, Deus o feriu por seu ato de irreverência e ele morreu ali mesmo (2 Sm 6.6-7).
Mas, o véu que separava o santuário (o hekal) do Santo dos Santos (o debir) já não existe mais. Ele foi rasgado de alto a baixo na Sexta-Feira da Paixão, às três horas da tarde, no momento em que Jesus expirou (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45).
A mudança brusca e perfeita repousa no sacrifício de Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Desde então a caminhada do hekal até o debir está autorizada. Essa tremenda aproximação do homem com Deus é possível por causa do evangelho (boas notícias), por causa do primeiro Natal, por causa da primeira Semana Santa, por causa da maravilhosa graça.
Não desperdicemos esse privilégio! E não procuremos caminho fora de Cristo, pois ele mesmo declarou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (Jo 14.6).
Fonte: Revista Ultimato, número 305